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![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() Esta página é dedicada às Festividades Pagãs.
![]() ![]() ![]() Imbolc
Dia 1 de Fevereiro
Beltaine
![]() Dia 1 de Maio
![]() Lughnassad
![]() Dia 1 de Agosto
![]() ![]() ![]() ![]() O mais importante a saber sobre os Dias Sagrados será que esses Dias não são nem foram criados pelo Homem. Quero dizer com isto que não são festividades como o dia de Camões e das Comunidades Portuguesas*, ou seja, uma festividade calendarizada, á qual é atribuída uma data por ter alguma importância histórica relevante. De facto, os Sabbats ou Festivais Maiores da Antiga Religião não comemoram nenhum facto histórico relevante e são, como se irá perceber, anti-éticos quanto ao conceito de história. Nem são festividades escolhidas para comemorar algo de institucionalizado como o Dia da Mãe. Não, os oito Sabbats não foram criados pelos homens porque estes já existiam muito antes do Homem existir. Tão antigos como a própria Terra. Poderiam não ter o nome de Sabbats, mas eram exactamente os mesmos. A razão pela qual os Sabbats são assim tão Ancestrais será simplesmente porque eles fazem parte do funcionamento básico da Terra. Consequentemente, estas Festividades não são da história mas da Natureza.
![]() Somos habitantes de um bonito planeta verde e azul chamado Terra, o qual roda á volta de um eixo. E esse eixo é inclinado em relação ao plano da órbita da Terra em torno do Sol. E por causa disto, uma vez por ano, nós temos uma noite mais longa, acompanhada pelo dia mais curto ; quando as horas entre o pôr-do-Sol e o nascer do Sol são maiores e as horas entre o nascer do Sol e o pôr-do-Sol são menores. Chamamos a esta época "Solstício de Inverno". Em oposição na Roda do Ano temos o dia maior do ano e a noite mais curta; "Solstício de Verão".
![]() E tendo avançado até este ponto na análise do ciclo anual do planeta, torna-se fácil localizar mais dois dias especiais. Em cada Primavera chega uma altura em que as horas entre o nascer do Sol e o pôr-do-Sol são exactamente iguais às que se contam entre o pôr-doSol e o nascer do Sol. A esta época em particular chamamos " Equinócio da Primavera". Da mesma forma e cada Outono, existe uma época em que as horas de duração do dia são exactamente iguais ás horas de duração da noite. Chamamos a este época "Equinócio de Outono".
![]() Talvez seja bom lembrar mais uma vez, que a importância destes dias está no facto de que ninguém os inventou mas sim de que simplesmente eles fazem parte integrante da forma como o planeta funciona. Será então legitimo presumir que até mesmo o mais primitivo dos humanos teria notado estas diferenças e mudanças nas horas dos dias e a consequente mudança das estações do ano. Poderemos imaginar a expectativa do "nobre selvagem" contando o decrescer nas horas da duração do dia em cada Outono. E o alívio quando sentia quando o ano virava no Solstício de Inverno, e os dias começando a crescer de novo, prometendo que a Primavera iria voltar de novo. Não será então de admirar que o mais antigo alinhamento astrológico que se conhece e do qual se tem provas, aponta para a posição do Sol no céu no Solstício de Inverno. Está registado num dos antigos túmulos Irlandeses através de registos inscritos no mesmo.
![]() De facto, a relativamente recente ciência arqueoastronomia reforça muito do que foi descoberto à cerca das Antigas Festividades. Muitos dos locais megalíticos, como por exemplo Stonehenge, tem claros alinhamentos em relação aos Solstícios de Verão, Inverno e Equinócios de Primavera e Outono. Mas estes alinhamentos não se confinam apenas às Ilhas Britânicas; de facto poderão ser encontrados pelo mundo inteiro: desde as pirâmides do Egipto aos antigos Templos Chineses; desde habitações dos Índios Norte Americanos aos Templos do Peru. Os dois Solstícios e os dois Equinócios são sem dúvida as festividades mais Ancestrais conhecidas pelo Homem, e eram certamente conhecidos no mundo inteiro. Estudiosos do folclore referem-se a estes dias como dias-quartos isto porque dividem o ano em quartos. Os astrólogos também os conhecem, pelo facto de que três dos signos do zodíaco cabem em cada um dos quartos, começando com o primeiro dia de Carneiro no Equinócio da Primavera. E os Feiticeiros modernos chama-lhes os quatro Sabbats Menores.
![]() Os quatro Grandes Sabbats no calendário dos Feiticeiros poderão parecer aparentemente menos óbvios na origem. Essencialmente eles segmentam os quartos que foram referidos acima, incidindo no ponto médio de cada um deles.
![]() Por esta razão os estudiosos do folclore referem-se a eles como dias de segmento-dos-quartos.
![]() Com estes dias no sitio, o circulo do ano começa a parecer-se com uma roda dividida em oito partes, a qual é símbolo sagrado em muitas das religiões antigas. Por não serem marcados de uma forma tão obvia por eventos terrestres, como os Solstícios e Equinócios, alguns autores foram levados a especular que eles são derivados dos originais quartos, e que a sua observação envolvia um estado de evolução do Homem mias avançado.
![]() Contudo, apesar de não serem contemporâneos, a sua grande antiguidade foi recentemente evidenciada pela descoberta na Irlanda de alinhamentos feitos de terra da posição do Sol no horizonte para cada um dos dias de segmento-dos-quartos. Isto significa que a festividade, a que hoje chamamos de Halloween** foi celebrada desde o período megalítico. Que os dias de segmento-dos-quartos devam ser considerados com maior importância que os Solstícios e equinócios não é para admirar. É uma experiência humana comum que todas as coisas atingem o seu máximo poder e força, no seu pico de energia, no seu ponto médio. Observando a vida humana por exemplo, constata-se que um humano estará no seu auge de vigor e força no ponto médio da sua existência. Assim também acontece com as outras coisas na natureza. Tal como com cada um dos quartos do ano. Os dias de segmento-dos-quartos são portanto vistos como sendo os quatro pontos de poder do ano.
![]() Consequentemente, estes pontos de poder foram marcados pelas quatro festividades mais importantes no ano dos feiticeiros, de acordo com o Velho Calendário, marcando também a mudança das Estações. Estes quatro pontos correspondem também às figuras tetramorphicas do zodíaco, sendo mais tarde adoptadas pela tradição cristã como os sigilos dos quatro escritores bíblicos.
![]() Quando me perguntam que aspectos fazem a perspectiva do mundo vista pelos feiticeiros diferente das outras pessoas, um dos primeiros que me lembro primeiro é a sensibilidade dos feiticeiros perante os Ciclos da Natureza, em especial os ciclos da Lua e do Sol. No mundo moderno e isolados como estamos da progressão das estações, podemos ir ao supermercado e comprar os vegetais e frutas durante o ano inteiro sem nos preocuparmos com o que é próprio da estação. No entanto um feiticeiro ou feiticeira sabe perfeitamente onde está no decurso do ano ou que fase da Lua está na altura visível ou não.
![]() Originalmente a palavra Sabbat é de origem Babilónica, designando os dias-quartos do ciclo lunar - Cheia, Nova, primeiro e segundos quartos - o que ocurria cada sete dias. Só mais tarde os Judeus adoptaram a palavra para designar o dia de descanso e oração, que ocurria cada sétimo dia, sem excepção.
![]() Nada poderá sintonizar de maneira mais forte os feiticeiros modernos com os Ciclos da Natureza do que a observação das Antigas Festividades.
![]() Descobrindo mais sobre estas Antigas Festividades e na minha constante procura sobre o seu significado, espero despertar nos meus leitores o mesmo sentido mágico e de ligação com a Natureza que experimentei no contacto com estas ancestrais celebrações. Espero sinceramente que se percebam os vestígios de poder primordial ecoando pelos séculos que foram e pelos que virão.
![]() *Nota de tradutor - este dia foi deliberadamente adaptado à realidade portuguesa visto que o exemplo do texto original de Nichols não fazer sentido em Portugal e cito "Independence Day".
![]() **Nota do tradutor - este nome "Haloween" será mais tarde discutido na sua génese.
![]() Texto gentilmente cedido por Mike Nichols sob o título original
![]() "Introduction to the Sabbats " (c) reservados todos os direitos.
![]() 28 de Agosto de 2000 U.S.A.
![]() Tradução do Ingês de Celtic Oak 2000 (c)
![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() Imagem de Jim Fitzpatrick(c)
![]() Á medida que as noites se vão tornando mais longas e que as folhas tomam a sua cor Outonal, a maior parte da cultura Ocidental prepara-se para um Festival Sazonal dominado por imagens sombrias e assustadoras. Fantasmas, caveiras, bruxas feias, criaturas nocturnas como gatos pretos e morcegos, e monstros sorridentes que nos espreitam através das montras das lojas. A maior parte destas manifestações são apenas puro comercialismo, no entanto não poderemos negar que a atmosfera desta época tem ainda um efeito profundo na psique das gentes de agora - como poderemos verificar através das espontâneas e desmedidas paradas e desfiles de Halloween, uma expressão criativa de temas mórbidos e no humor generalizado que antecede partidas e brincadeiras chamadas de humor da época. Todos estes costumes, no entanto, são um reflexo difuso das crenças e praticas das populações Celtas Europeias, para as quais este Festival era um momento de viragem crucial nas correntes dos tempos.
![]() O registo mais antigo que se conhece do Festival de Samhain no mundo Celta advém-nos do Calendário de Coligny, um calendário lunar de origem celta inscrito em placas de bronze e descoberto a Este de França á cem anos. O Calendário - datado, através de sistemas epigráficos, do século I EC - é escrito em latim e foi descoberto juntamente com uma figura de estatuária de características romanas (identificada por alguns como Apolo e por outros como Marte ), mas a língua utilizada nas inscrições é o gaulês e o sistema de datação comporta poucas semelhanças com os modelos Romanos, implicando assim a sobrevivência de uma tradição de origem nativa, mantida por clérigos da região. Uma discussão detalhada sobre este calendário daria com certeza outro artigo que seria extenso em explicações e pesquisa, mas para o nosso tema será suficiente verificar que o ano deste calendário está dividido em doze meses que se repetem sucessivamente e que cabem muito naturalmente em dois grupos; um comandado pelo mês SAMON (de Samonios ) e o outro pelo mês GIAMON (de Giamonios ).
![]() ![]() ![]() Fragmento do Calendário de Coligny
![]() Estes dois meses estão claramente relacionados com os termos samos "summer" (verão ) e giamos "winter" (inverno ) - do gaélico samh/radh -verão, e geamh/radh -inverno.
![]() A data que figura no mês de SAMON é identificada como TRINVX SAMO SINDIV, o que poderá ser a abreviatura de Trinouxtion Samonii sindiu ou seja #"Samonios, a noite-dos-três-periodos [é] hoje".
![]() Esta é uma das poucas datas que figuram no Calendário a que é atribuído um nome específico, testemunhando assim a sua importância como Festival; e como Samoni é obviamente a origem do nome Samhain, será razoável comparar e igualar o Trinouxtion Samonii com o Festival que é ainda hoje uma das datas mais importantes no Ano Ritual Celta.
![]() Dever-se-á notar, no entanto, que como o Calendário de Coligny não nos dá indicações á cerca da relação dos seus meses com os meses do calendário romano, não temos provas conclusivas que nos permitam ajusta-lo ou fazer equivalências ao nosso actual calendário e os estudiosos estão de facto divididos quanto a esta questão.
![]() Numa análise mais profunda verifica-se que facto mais confuso será que Samon, se refere a verão - summer - e que naturalmente nos levaria a concluir que um mês com este nome estaria no comando da metade do ano que se refere ao verão; e muitas das primeiras interpretações do Calendário de Coligny toma isto como um facto. No entanto, na Tradição Celta que preciste ainda hoje, o festival de Samhain, apesar do seu nome, é de facto o começo do Inverno. Mesmo assim esta evidencia não põe de parte a possibilidade de que os Druidas continentais usem uma terminologia completamente diferente, e muitos dos estudiosos aceitam hoje a opinião das Tradições vivas e colocam o Samonios em Outubro/Novembro.
![]() Mas afinal qual será o significado deste festival e o que quer de facto dizer?
![]() Mais uma vez pisamos o terreno da controvérsia. A interpretação tradicional - apresentada pela primeira vez nos glossários medievais e ainda mantida pelas gentes nativas - será que significa "fim do verão", sendo uma combinação entre samh/verão e fuin/fim. Esta é, obviamente uma etimologia de folclore, pois sabemos que a antiga forma da palavra - Samoni - tinha uma estrutura diferente, mas a sua importância para a Tradição Viva faz-nos pensar em deixa-la como está. Apesar dos filologistas serem incapazes de encontrar uma explicação indo-europeia para o sufixo "oni" significando "fim de" (o sufixo aliás aparece em pelo menos mais três dos meses do Calendário ), este facto não é conclusivo em si mesmo: existem outros tantos sufixos derivantes relacionados com o antigo celta que resistem a uma etimologia indo-europeia fácil apesar dos seus significados serem incontroversos. O que deverá ser tido em mente é que o contexto ritual do Ano Celta, Samhain é fortemente identificado com o fim do verão, a metade escura do ano. Nas modernas línguas gaelicas o festival é chamado Samhain (Irlanda ), Samhuinn (Gaelico Escocês ), e Sauin (Ilha de Man ). A noite na qual o Festival começa (Oíche Shamhna em Irlandês, Oidhche Shamhna em Gaelico Escosês, Oie Houney na Ilha de Man) é o foco principal da celebração.
![]() As línguas Britónicas chamam a festividade "primeiro do inverno", adoptando o termo do latim "calenda" o qual designa o primeiro dia do mês (em Gaulês Calan Gaeaf, do Bratão Kala-Goañv, do Cornoalico Kalann Gwav ), mas as crenças e prática associadas com esta festividade está relacionada de forma consistente com aquelas que se verificam nos territórios Gaelicos, o que nos irá ajudar a descobrir uma teologia Celta do Samhain.
![]() A divisão do ano, do Calendário de Coligny, em duas metades associadas com o verão e inverno está bastante enraizada na prática do folclore celta onde os ciclos anuais são constituídos por duas metades; uma metade escura que tem o seu começo em Samhain (dia 1 de Novembro ), reflectindo esta metade, uma outra a qual se caracteriza pela luz ou metade luminosa que tem o seu inicio em Bealtaine (dia 1 de Maio ). Os rituais que enquadram estes dois festivais de Samhain e Bealtaine estão relacionados directamente um com o outro e tornam claro que os dois Festivais estão ligados. Além disso, estes dois festivais lidam com energias de oposição um ao outro em relação ao desenvolvimento do ano. O que é explicito e activo num, é implícito e passivo no outro e vice versa. Esta ideia é por muitas vezes expressa pela noção de que aquilo que desaparece no nosso mundo, torna-se presente no Outromundo, e foi até sugerido que, com base nisto, o nome de Samhain designado verão, referia-se originalmente ao começo de um verão no Outromundo. O certo é que Samhain é o começo de um ciclo anual e Bealtaine também construindo ambos um início de um ciclo e nova etapa no ano. Na antiga Irlanda o Rei inaugurava o ano em Samhain com a sua família - e simbolicamente para todo o povo da Irlanda - com o famoso ritual de Tara, mas em Uisneach, o Centro Sagrado dominado pelos Druidas em oposição complementar a Tara, celebravam o Ciclo Ritual Principal em Bealtaine. Em ambos os casos, fogos sagrados eram extintos e reacendidos, apesar destes festivais acontecerem ao nascer do Sol em Samhain e ao pôr do Sol em Bealtaine. Beltain era um tempo de abertura e expansão, e Samhain uma época de recolha de colheitas e de fecho, e para donos de rebanhos e manadas como os Celtas isto era expresso com uma vividês singular através da libertação do gado para os pastos das terras altas em Bealtaine e o seu retorno aos estábulos e cercados em Samhain.
![]() Qual destas duas datas, então, deveremos ter em conta como o " Ano Novo Celta" ?
![]() Apesar de ambos estarem ligados a uma ideia de começo de um ciclo, Samhain começa-o na escuridão e não há dúvida quanto á proeminência do papel da escuridão na Tradição Celta. No documento De Bello Gallico Julius Caesar nota que os Celtas começam o seu ciclo diário com o pôr do Sol:
![]() " Spatia omnis temporis non numero dierum, sed noctium finiunt ; dies natales et mensum et annorum initia sic obseruant, ut noctem dies subsequatur."
![]() " Eles definem todos os períodos de tempo, não pelo número de dias, mas pelo número de noites ; eles celebram os dias de nascimento e os inícios dos meses e anos de tal forma que o dia é feito para se seguir á noite."
![]() E tudo isto é confirmado pela prática mais tardia da Tradição Celta.
![]() A escuridão vem antes da luz, porque a vida é criada na escuridão do ventre, todas as coisas tem o seu inicio no caos fértil que está oculto á mente racional. Desta forma, o ano começa com a metade escura, mantendo a metade de luz em gestação á medida que as sementes repousam numa morte aparente no subsolo, apesar das forças do crescimento estejam já a labutar na invisibilidade do Outromundo. O momento da morte - a passagem para a escuridão oculta - é de facto o primeiro passo para a renovação da vida.
![]() Esta associação da morte com a fertilidade sustenta o fundo teológico que envolve um grande número de Festivais de fim de colheita celebrados em várias culturas através da Euroásia. Tal como o Samhain, estes Festivais - por exemplo os rituais de Dyedy (Ancestrais ) nos países Eslavos e o Vetrarkvöld na Escandinávia - ligam o recomeço do ciclo agricula - depois de um período de uma aparente "morte" invernal - com o apaziguamento da morte na comunidade humana. Os Idos passam das preocupações sociais deste mundo para o caos primordial do Outromundo onde toda a fertilidade tem as suas raízes, apesar de ainda estarem ligados aos vivos por laços de parentesco ou de afinidade.
![]() Esperava-se então que solidificando esta ligação, precisamente quando o ciclo natural parecia estar a passar pelo seu momento de morte, a comunidade dos vivos conseguiria beneficiar das energias de crescimento que conduzem naturalmente a morte á vida. Os Ancestrais seriam assim os aliados da Tribo no Outromundo, assegurando que as forças criativas que se situam nas profundezas da Terra/Região seriam dirigidas e direccionadas para servir as necessidades da comunidade humana. Elas eram, em termos Celtas, um factor humanizante dentro do domínio Fomoriano.
![]() Seja qual tenham sido os elementos que determinaram a data do fim-da-colheita, honrando os mortos nas várias regiões, só no século IX e X a influência unificadora de Igreja levou a concentrar os rituais a 1 e 2 de Novembro.
![]() A primeira data foi chamada All Hallows (todos os permitidos *), quando a mais poderosa comunidade espiritual cristã - os santos - eram mencionados com vista a fortalecer a comunidade dos vivos, de uma forma bastante semelhante á prática pré-cristã. A segunda data, All Souls (todas as almas* ) foi um acrescento - primeiro como uma prática Beneditina, tendo o seu inicio cerca de 988 e.c. - como uma extensão deste conceito alargando o leque de incluídos nesta celebração, sendo permitido prestar homenagem aos mortos das famílias e comunidades locais. No entanto, e oculta ás específicas observações cristãs, formas ancestrais de veneração aos Antepassados foram preservadas.
![]() A maior parte das tradicionais comunidades celtas mantêm uma ligação anual cíclica de alguma forma com os seus Idos, incluindo-os em todas as datas significantes da família, tais como nascimentos, casamentos ou funerais. Em áreas da Irlanda Gaeltacht, ainda se pode ver numa casa um seamra thiar (quarto ocidental ), uma parte da casa (muitas vezes um recanto ou nicho ), dedicado aos Idos da família. Objectos que particularmente lembram os seus Idos (velhas fotografias, peças de joalharia ), são colocados numa pequena prateleira , e á medida que se os contempla, viramo-nos para o lado onde o Sol se põe e para a imensidão do Atlântico, direcção essa que os Idos tomam na sua Viagem para o Outromundo. Os rituais de Samhain, no entanto, envolvem uma ligação mais intensa com os Idos, usando a instituição, a qual, na Tradição Celta, era usada para fortalecer laços sociais de uma forma sagrada e durável: os festejos comunitários. Partilhar comida de uma forma solene - "sob o olhar dos Deuses e dos Idos" - apresenta responsabilidades mutuas e comuns em todos os participantes.
![]() Convidar os Idos para tal festejo, encoraja os vivos a lembrarem-se e honrarem os seus Ancestrais, enquanto os Idos em troca serão encorajados a terem interesse no bem estar dos seus parentes.
![]() No Samhain, o momento da morte do ano, este mundo e o Outromundo tornam-se equivalentes, removendo-se fronteiras delimitativas entre os dois, não existindo barreiras entre mortos e vivos, podendo ambos unirem-se literalmente no mesmo lugar para partilhar uma festa ritual.
![]() Comunidades Celtas individuais preservaram uma grande quantidade de costumes diferentes relacionados com a forma em que esta festividade era de facto celebrada: poder-se-á discernir alguns elementos transformados e por vezes distorcidos nas práticas urbanas da actualidade, como por exemplo o Halloween ou o famoso "trick-or-treat". A maior parte dos costumes podem-se agrupar em dois largos grupos. De acordo com o primeiro, uma certa quantidade de comida era reservada e posta á parte sendo destinada aos Idos. Os Idos estariam presentes no festejo sob a forma de entidades invisíveis; portas e janelas eram deixadas destrancadas no intuito de facilitar a sua entrada na casa. Em alguns casos, um tipo de comida específico (um bolo especial ) era confeccionado apenas para os Idos ; noutras uma quantidade da mesma comida dos vivos seria posta á parte para os Idos. O exemplo mais clássico deste tipo de tradição (o qual é encontrado tanto na Irlanda como na Escócia ), é o boued an Anaon - "comida dos anfitriões dos Idos" - costume na Britania. O Anaon - a palavra parece a mesma que Annwn, o Outromundo Galês; é com toda a certeza um termo pré-cristão - são os Anfitriões dos Espíritos Ancestrais , usualmente retractados como cheios de vontade de comer alimentos do mundo dos vivos. Uma grande quantidade de comida era posta de parte apenas para seu uso, e teria de permanecer intocada pelas mãos dos vivos durante todo o período ritual. Comer a comida dos Idos - mesmo que se estivesse desesperadamente esfomeado - era considerado um terrível sacrilégio: condenaria o transgressor a tornar-se depois da morte um espirito esfomeado, interdito a partilhar das iguarias de Samhain e do resto do Anaon.
![]() O outro grupo de costumes de Samhain, pelo contrario, encoraja a reciclagem da comida oferecida pela comunidade, fortificando assim os laços sociais. O exemplo clássico deste segundo grupo é o Galês cennad y meirw - "embaixada dos Idos" - embora costumes similares sejam encontrados noutras partes do mundo Celta e pós-Celta. Aqui, enquanto os membros mais ricos da comunidade celebravam ricos Samhains nas suas casas, os pobres pegariam na identidade colectiva dos Idos da comunidade, e seguiriam de porta em porta, para receber ofertas em nome dos seus Ancestrais. Em cada casa receberiam uma quantidade de comida que estaria de parte para os Idos dos mais abastados. Originalmente os cenhadon andariam mascarados para abolir os seus papeis sociais mundanos e permitir que representassem os Idos de uma forma mais convincente. A recusa de presentear os cenhadon por alguma razão era considerado um acto de impiedade e convidaria á retaliação na forma de destruição de propriedade - retaliação esta que seria impune por causa da época sagrada que se estava a passar. Poder-se-á ver aqui a origem do "trick" - travessura -nos costumes modernos de Halloween, apesar de que hoje em dia se tenha perdido a sua dimensão moral.
![]() Uma festa em comunidade envolve, como é claro, mais do que apenas comida. Os Idos não teriam somente que ser alimentados mas também entretidos. Jogos e passatempos associados ao Samhain variam bastante de comunidade para comunidade, mas têm de facto temas em comum. Enquanto os mais novos se envolviam em formas de jogos ritualizados, os mais velhos conversariam, relembrando os eventos mais importantes e significativos do ano passado pelo beneficio da experiência dos Idos, sendo estes encorajados a terem interesse nos assuntos dos vivos. Os próprios jogos, em muitos casos, teriam ligações directas com a mitologia relacionada com os Idos e com a vida após a morte. Muitos deles envolvem maçãs - em parte, claro, porque as maçãs são a última colheita a ser feita e estão portanto facilmente disponíveis, mas também como reflexo do papel que as maçãs têm nas crenças á cerca da morte: na Tradição Irlandesa o lugar no Outromundo onde os Idos se reúnem em festa é chamado Eamhain Abhlach - "paraíso das maçãs" - e o seu equivalente Galês Afallon. Algumas das Tradições Escocesas usam ordílias de água e fogo, dois dos principais elementos dos quais o mundo é constituído e feito. A ordilia de água é a tradicional dentada da maçã dentro de um recipiente com água e a ordilia de fogo envolvia a mesma tentativa, mas desta feita, a uma maçã ligada a um pau dependurado o qual também suporta uma vela acesa. Parecem de facto referências ás ordilias mitológicas que eram enfrentadas pelos Idos na sua viagem para o Outromundo - um corpo de crenças que apenas conhecemos fragmentos, embora o conceito básico da viagem e das ordilias esteja bem estabelecido. Partilhando das experiências dos Idos, é uma forma de demonstrar a solidariedade entre vivos e mortos e o alinhamento dos poderes da renovação do Outromundo em consonância com as necessidades deste.
![]() Enquanto os Idos são aproximados dos vivos pela partilha formal de comida, outras oferendas teriam de ser feitas aos Espíritos da Região no intuito de os compensar pela sua cooperação durante o período das colheitas, e para restabelecer a sua energia criativa á medida que se prepara um novo ciclo.
![]() Com Samhain, o periodo de descanso que começou em Lughnassad está oficial no seu fim, e os frutos do solo (especialmente as bagas e sementes selvagens ) não poderão ser colhidas impunemente. Bem marcado na memória, as crianças das comunidades Celtas eram advertidas a não comer as bagas tardias que ainda repousam dependuradas nos nas bermas dos caminhos, porque as fadas os tornavam perigosos para comer. Tendo permitido a subrevivência comunidade humana pelo crescimento das bagas e sementes e por ter permitido a colheita ter sido realizada, os poderes do reino Fomoriano tem agora o direito a uma recompensa de sangue de renovação de vida ; e Samhain é a altura em que o gado que não era guardado para pastorio era morto.
![]() Renovando ligações sociais com os Idos e alimentando os Espíritos da Terra eram ambos procedimentos rituais que asseguravam um futuro próspero. Enquanto Samhain (e o fenómeno da passagem para o Outromundo que esta festividade celebra ) é o fim de um ciclo, é também o começo de um novo. Porque toda a verdadeira novidade nasce da libredade caótica e da vitalidade do Outromundo, um novo ciclo poderá ser iniciado apenas se se dissolver todas as estruturas do velho ciclo - tal como o momento da morte dissolve a nossa identidade neste mundo, permitindo as energias renovadas do Outromundo nos incitarem a uma nova vida. Quer com isto dizer que como acontece em muitas das festividades de renovação nas diferentes culturas, certos tipos de desordem social eram activamente encorajadas durante o periodo do festival, por promoverem a influência renovadora do Outromundo num ponto do ciclo anual quando seriam mais benéficas. Costumes originarios inteiramente no mundo dos valores culturais - como aqueles relacionados aos estrátos sociais ou aos comportamento standarizado dos géneros - eram saudavelmente transgredidos. O travestismo era uma das práticas mais populares e uma das formas de expressar esta dissolução das categorizações sociais.
![]() Mas esta aparente desordem, como deve ser fácil de calcular, seria apenas o prelúdio ao retorno da ordem revigurada e fortificada. As estroturas que foram dissolvidas teriam de ser recriadas para que se podesse canalizar a energia do Outromundo nas direcções desejadas. Enquanto as comunidades locais teriam as mais diversas formas e metodos de conseguir este procedimento ritualisticamente (geralmente através da extinção do fogo das suas casas e da sua posterior reinflamação ), cerimonias mais elaboradas, eram conduzidas por especialistas religiosos nos centros sagrados dos territórios, em nome de toda a população. Na Irlanda pré-cristã, o ritual de Tara centrado no Rei Supremo no seu papel de mediador da ordem social, era o meio da reconstrução do mundo em Samhain. O texto Irlandes da Idade Média intitulado Suidigud Tellaig Temra (O establecimento da familia de Tara ) descreve os passos essênciais do ritual e relaciona alguma da mitologia que explica o seu simbolismo (não obstante com algum fundo cristianizado ), enquanto Geoffrey Keating, o escritor eciclopédico do século XVII de foclore Irlandes, nos proporcionar explicações adicionais de alguns destes elementos.
![]() Qual seria então o papel dos Deuses neste ponto de viragem do ano ritual?
![]() Sendo que virtualmente todo o nosso conhecimento de praticas rituais detalhadas dos Celtas nos chegam por vezes de comunidades cristianizadas, a referência a devindades que de facto eram honradas são, como seria de esperar, raras e indirectas. No entanto, algumas das histórias tanto no folklore como na literatura medieval parecem ser relevantes para a teologia desta festividade. Imagem como a do Heroi Diarmait morto por um javali depois do seu romance com Gráinne, mulher de Fionn Mac Cumhail; ou a de Myrddin surgindo da floresta com uma manada de viados para matar o amante da sua mulher, perfurando-o com um par de chifres; ou Gwyn ap Greidawl ("Filho Branco do fazedor de Nevoeiro" ) lutando com Gwythyr ap Nudd ("O Enrraivecido Filho da Colera" ) em cada Calan Mai (Beltain ) "até ao dia do Julgamento" pela cabeça da apaixonada de ambos, Creiddyland; ou a ideia de Fianna vivendo na natureza de Beltaine a Samhain e dentro de casa de Samhain a Beltain, todas sujerem mitos de certas divindades, mudando o seu estatuto em relação á Deusa da Região em resposta ás mudanças de estações ao longo do eixo Samhain-Beltain. O denominador comum destes motivos parece ser a figura do Deus com Cornos agora convencionalmente chamado como Cernunnos, cuja mitologia tem decisivamente ligações com as histórias de Fianna e cujos atributos simbolizam a mudança sazonal bem como a inter-relação entre cultura e natureza.
![]() * nota de tradução
![]() - Continua -
![]() Texto de Alexei Kondratiev
![]() Copyright ã 1997 Alexei Kondratiev
![]() All Rights Reserved
![]() Tradução do Ingês de Celtic Oak 2000 ã
![]() ![]() ![]() Caldeiro de Tailtiu 2000 ã
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